terça-feira, 30 de novembro de 2010

DROGAS E AIDS


Este texto foi escrito originalmente em 14 de outubro de 1996 e foi lido na rádio Guaíba, como Abertura de Jornada, pelo radialista Haroldo Souza, em Porto Alegre/RS.

Agora, que consegui assimilar melhor a perda de um compositor, cantor e de uma pessoa admirável pela personalidade e sensibilidade, que muito gostava, tentarei transmitir o que penso a respeito:
Há muito pouco tempo atrás, deparei-me com o terror da minha geração: a AIDS, um mal que abalou e exterminou pessoas como CAZUZA e, há poucos dias, RENATO RUSSO.
Não sei por que os melhores compositores da minha era não esperaram um pouco mais...Talvez, porque não agüentassem mais tanta hipocrisia, desrespeito, preconceito e violência.

Se “os bons morrem antes”, ou “cedo demais”, como cantou Renato, como nós, tão comuns mortais poderemos crescer e melhorar? Será que é só quando damos de cara com a morte ali, definitiva, inexplicável e fria que paramos para pensar?
Sei que, antigamente, as pessoas não reagiam diante dos fatos, agora sinto que elas nem agem mais. Contudo, a sociedade permanece hipócrita, só que está mais perigosa: além das drogas temos que aprender a lidar com essa verdadeira peste e grave armadilha, que é a AIDS.
Será que nós, jovens, os filhos dos hippies, somos de fato mais felizes por usufruirmos da chamada “liberdade” sexual? E que liberdade é esta que mata e obriga a todos temerem, dia-a-dia, a morte? Até que ponto somos mesmo livres?
Eu penso que quando meus pais eram jovens, apesar de todos os problemas da época (final década de 60, anos 70), era muito mais seguro viver. Parece que não estamos preparados para enfrentar tanta liberdade.
Nos tempos dos Beatles e dos Rolling Stones, as drogas tinham um ar de rebeldia, romantismo e até de glamour. Infelizmente, hoje elas ocupam um lugar bem diferente, são sinônimos de fraqueza, violência e doença. Além do que, estão mais tóxicas, viciantes e destrutivas do que nunca; O seu uso fomenta um negócio milionário que é o Narcotráfico e patrocina a violência armada de que todos somos alvos e vítimas.
É tão normal as pessoas possuírem algum tipo de dependência química (álcool, cigarro, calmantes, além as drogas ilícitas: crack, cocaína, maconha, etc), que fica até difícil comentar a respeito.
As drogas sempre existiram e as pessoas sempre as usaram. Mas atualmente parece que se transformaram em necessidade, como um escudo para enfrentar a vida ou como um antídoto para se alienar de uma sociedade cruel, impiedosa, injusta.
Bem, não sei o que irá acontecer conosco...Tenho ouvido por aí que esta “onda” de drogas e AIDS é fruto da falta de perspectivas e coragem, devido até mesmo ao medo que nos assola e por isto nós - a “juventude transfigurada” - está MORRENDO e se aprisionando cada vez mais.

Mariana Lourenço de Lima Carneiro, aos 17 anos.

Ferreira Gullar

TRADUZIR-SE

Uma parte de mim
é todo mundo:
outra parte é ninguém:
fundo sem fundo.

Uma parte de mim
é multidão:
outra parte estranheza
e solidão.

Uma parte de mim
pesa, pondera:
outra parte
delira.

Uma parte de mim
almoça e janta:
outra parte
se espanta.

Uma parte de mim
é permanente:
outra parte
se sabe de repente.

Uma parte de mim
é só vertigem:
outra parte,
linguagem.

Traduzir-se uma parte
na outra parte
- que é uma questão
de vida ou morte -
será arte?

Ferreira Gullar

segunda-feira, 29 de novembro de 2010

RECEITA: BOLO FÁCIL DE AVEIA E CASTANHAS

Atendendo a diversos pedidos, resolvi revelar aqui a minha receita "secreta" do bolo de aveia, cujo sucesso é garantido, sempre. É ótima porque não leva gordura (óleo), nem farinha. Além de ser facílima de fazer: prática e rápida.
Claro, que acrescentei alguns ingredientes e detalhes à receita original, pois, como tudo na vida, vai-se aperfeiçoando ao longo do tempo... Cada um pode ir mudando e somando a ela algumas variantes para adaptá-la ao seu gosto pessoal.

Ingredientes:
1 lata de leite condensado
4 ovos (com 3 também fica bom)
1 colher (sopa) de fermento em pó
1 xícara (chá) de aveia em flocos finos
(pode-se colocar metade de flocos grandes)
1 porção (a gosto) de castanhas do Pará (fica muito bom com nozes também)

Modo de preparo: (Muito difícil: preste atenção!)
Bater tudo no liquidificador até ficar uma massa bem homogênea. Deixar as castanhas para bater bem pouco, rapidamente, no final.
Untar a assadeira (30x20cm) e assar por 30 minutos.

* Fica ótimo com uma cobertura de brigadeiro e com castanhas ou nozes picadas por cima!
Bom proveito a todos!

ANTIBIÓTICOS e DROGAS

ANTIBIÓTICOS e DROGAS.
Dr.Aloyzio Achutti. Médico.

Desde o fim de semana não basta mais ter dinheiro para comprar antibióticos no balcão da farmácia. Agora, como já acontecia com psicotrópicos, opiáceos e outras drogas capazes de provocar dependência, é preciso ter uma receita médica.
Uma das explicações para a restrição está no surgimento de resistência bacteriana, superbactérias mais rapidamente adaptadas aos antibióticos, do que nossa capacidade de encontrar armas mais poderosas para combatê-las. Outra está na destruição de nossa flora normal e necessária para a vida, dando chance para oportunistas tomarem conta do território conflagrado, aproveitando-se do desequilíbrio provocado entre nossos comensais.
Os antibióticos - como está expresso em seu nome - são armas mortíferas, contra a vida, destinadas a matar micro-organismos vivos, na presunção de liquidá-los antes do hospedeiro.
Logo depois da descoberta destes remédios houve uma euforia (originada de arrogante ignorância), achando que doenças infeciosas haviam desaparecido...
Nossas origens estão nestas formas microscópicas de vida, e delas depende ainda hoje nosso sustento, de parceira com a digestão e o equilíbrio ecológico. Precederam-nos neste mundo a cerca de três bilhões de anos, enquanto somente a um milhão surgiram seres como nós. Temos mais delas em nossos corpos do que de nossas próprias células. Precisamos delas para sobreviver, para manter condições de troca com o meio ambiente, e limpar nossos estragos.
Nós médicos aprendemos uma lição: o equilíbrio, a manutenção de condições adequadas de vida, e a prevenção de doenças são essenciais. Não somos capazes de restabelecer o equilíbrio e a saúde com a violência de armas – farmacológicas ou de qualquer outra natureza - por mais poderosas que sejam.
A mesma lição não poderia servir também para tratar organismos sociais doentes?
A dependência e o tráfico de drogas são sintomas como a febre e a dor, num organismo vivo em desequilíbrio e infectado. No caso da enfermidade social é ainda pior: os usuários dependentes, como células doentes, fazem parte do tecido e se constituem na própria razão do tráfico. Forma-se uma rede complexa cuja inteligência não se encontra na favela, e seus maiores beneficiários estão em geral muito bem escondidos, e intimamente entranhados nas estruturas de poder, e no fluxo do dinheiro.
Não podemos mais prescindir dos antibióticos, cujo uso precisa ser controlado, mas sem a ilusão de que estas armas sejam suficientes para controlar as doenças infecciosas.
As drogas, seu tráfico e seus comandantes, encontraram na própria natureza humana e no desequilíbrio social um mercado, embora ilegal, extremamente sólido e rentável, cuja erradicação passa pelo controle do usuário, pela oportunidade de educação, identidade, integração social e emprego digno, capaz de competir com as oportunidades oferecidas pelo tráfico.
Tanques, fuzis e estratégia militar, assim como os antibióticos, também podem causar mais estragos e favorecer oportunistas. Não podemos nos iludir sobre a solução de problemas há tanto tempo tolerados e consentidos, especialmente porque a razão de sua existência não está localizada onde a guerra hoje se desenvolve.

sábado, 20 de novembro de 2010

O MELHOR DO ANO.

Tenho pensado muito sobre o ano que está acabando... O quê de melhor vivemos durante 2010? Sugiro que pensem todos também, sobre as coisas boas que viram, ouviram, sentiram nestes dias.

Normalmente, próximo à chegada de um novo ano, a gente se limita a reclamar do ano passado e a imaginar coisas novas, diferentes para o ano que nasce.

Proponho aqui uma retrospectiva pessoal, íntima. Que sejamos generosos, desprendidos e otimistas. Vamos tentar um olhar suave para trás. Uma despedida cortês e respeitosa do tempo vivido. Preparando, assim, o nosso estado de espírito para receber bem, de braços abertos o próximo ano.

Não dá para se esquecer dos fatos do mundo, claro, muitos têm impacto em nossa mente, são catalisadores, às vezes, de emoções fortes e inesquecíveis.

Para mim marcou muito a morte do Saramago, escritor e pensador que tanto admiro. O mundo ficou mais triste sem ele. Como me dói ver os bons (e gênios) indo embora...

Mas que incrível foi aquele resgate dos mineiros, que ficaram mais de dois meses soterrados no Chile... Como não me canso de dizer: NENHUMA FICÇÃO SUPERA A REALIDADE DA VIDA!

E é, claro, mais recentemente, nunca vou esquecer que no ano em que me mudei para a capital do país, presenciei a eleição da primeira Presidenta do Brasil! E com uma trajetória de vida digna de um livro e/ou filme, tal como o Lula (será que todos brasileiros assistiram ao filme sobre a vida dele?).

Há poucos dias assisti ao filme que conta a história do Ayrton Senna, nosso esportista-herói, inesquecível. Mas sobre esta comovente trajetória de luta, vitória e talento, vou escrever oportunamente e de modo especial. Ele merece uma homenagem à parte, pois marcou muito a minha vida, não só a sua vida, como a sua morte.

Pessoalmente, só tenho a agradecer à 2010! Mudança de ares, de pensamentos, de sonhos, de atitude. Grandes acontecimentos no meu pequeno mundo cotidiano, como a descoberta de grandes amizades. A chegada da maturidade com leveza, enfim.

Se não sou plenamente feliz, devo estar muito perto de ser. Gosto cada vez mais de ser quem eu sou, da pessoa que me tornei até aqui: foi o melhor que consegui ser, dentro do meu possível.

Eu gosto do lugar que estou e procuro fazer o que quero, me agrada e acredito. Mas o mais importante: levo no coração pessoas que amo e convivo ainda com muitas delas.

Minha vida tem sido abençoada há muito tempo, mas só agora percebo isto. Talvez todos nós precisemos ser menos exigentes e mais generosos com a vida que temos.

De qualquer modo, valeu 2010!

Abço aos amigos.

Mariana.
Brasília, 20/11/2010.

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

O discurso da vitória de Dilma Rousseff.

Minhas amigas e meus amigos de todo o Brasil,

É imensa a minha alegria de estar aqui. Recebi hoje de milhões de brasileiras e brasileiros a missão mais importante de minha vida. Este fato, para  além de minha pessoa, é uma demonstração do avanço democrático do nosso país: pela primeira vez uma mulher presidirá o Brasil. Já registro portanto aqui meu primeiro compromisso após a eleição: honrar as mulheres brasileiras, para que este fato, até hoje inédito, se transforme num evento natural. E que ele possa se repetir e se ampliar nas empresas, nas instituições civis, nas entidades representativas de toda nossa sociedade.

A igualdade de oportunidades para homens e mulheres é um principio essencial da democracia. Gostaria muito que os pais e mães de meninas olhassem hoje nos olhos delas, e lhes dissessem: SIM, a mulher pode!

Minha alegria é ainda maior pelo fato de que a presença de uma mulher na presidência da República se dá pelo caminho sagrado do voto, da decisão democrática do eleitor, do exercício mais elevado da cidadania. Por isso, registro aqui outro compromisso com meu país:
  • Valorizar a democracia em toda sua dimensão, desde o direito de opinião e expressão até os direitos essenciais da alimentação, do emprego e da renda, da moradia digna e da paz social.
  • Zelarei pela mais ampla e irrestrita liberdade de imprensa.
  • Zelarei pela mais ampla liberdade religiosa e de culto.
  • Zelarei pela observação criteriosa e permanente dos direitos humanos tão claramente consagrados em nossa constituição.
  • Zelarei, enfim, pela nossa Constituição, dever maior da presidência da República.
Nesta longa jornada que me trouxe aqui pude falar e visitar todas as nossas regiões. O que mais me deu esperanças foi a capacidade imensa do nosso povo, de agarrar uma oportunidade, por mais singela que seja, e com ela construir um mundo melhor para sua família. É simplesmente incrível a capacidade de criar e empreender do nosso povo. Por isso, reforço aqui meu compromisso fundamental: a erradicação da miséria e a criação de oportunidades para todos os brasileiros e brasileiras.

Ressalto, entretanto, que esta ambiciosa meta não será realizada pela vontade do governo. Ela é um chamado à nação, aos empresários, às igrejas, às entidades civis, às universidades, à imprensa, aos governadores, aos prefeitos e a todas as pessoas de bem.

Não podemos descansar enquanto houver brasileiros com fome, enquanto houver famílias morando nas ruas, enquanto crianças pobres estiverem abandonadas à própria sorte. A erradicação da miséria nos próximos anos é, assim, uma meta que assumo, mas para a qual peço humildemente o apoio de todos que possam ajudar o país no trabalho de superar esse abismo que ainda nos separa de ser uma nação desenvolvida.

O Brasil é uma terra generosa e sempre devolverá em dobro cada semente que for plantada com mão amorosa e olhar para o futuro. Minha convicção de assumir a meta de erradicar a miséria vem, não de uma certeza teórica, mas da experiência viva do nosso governo, no qual uma imensa mobilidade social se realizou, tornando hoje possível um sonho que sempre pareceu impossível.

Reconheço que teremos um duro trabalho para qualificar o nosso desenvolvimento econômico. Essa nova era de prosperidade criada pela genialidade do presidente Lula e pela força do povo e de nossos empreendedores encontra seu momento de maior potencial numa época em que a economia das grandes nações se encontra abalada.

No curto prazo, não contaremos com a pujança das economias desenvolvidas para impulsionar nosso crescimento. Por isso, se tornam ainda mais importantes nossas próprias políticas, nosso próprio mercado, nossa própria poupança e nossas próprias decisões econômicas.

Longe de dizer, com isso, que pretendamos fechar o país ao mundo. Muito ao contrário, continuaremos propugnando pela ampla abertura das relações comerciais e pelo fim do protecionismo dos países ricos, que impede as nações pobres de realizar plenamente suas vocações.

Mas é preciso reconhecer que teremos grandes responsabilidades num mundo que enfrenta ainda os efeitos de uma crise financeira de grandes proporções e que se socorre de mecanismos nem sempre adequados, nem sempre equilibrados, para a retomada do crescimento.

É preciso, no plano multilateral, estabelecer regras mais claras e mais cuidadosas para a retomada dos mercados de financiamento, limitando a alavancagem  e a especulação desmedida, que aumentam a volatilidade dos capitais e das moedas. Atuaremos firmemente nos fóruns internacionais com este objetivo.

Cuidaremos de nossa economia com toda responsabilidade. O povo brasileiro não aceita mais a inflação como solução irresponsável para eventuais desequilíbrios. O povo brasileiro não aceita que governos  gastem acima do que seja sustentável.

Por isso, faremos todos os esforços pela melhoria da qualidade do gasto público, pela simplificação e atenuação da tributação e pela qualificação dos serviços públicos. Mas recusamos as visões de ajustes que recaem sobre os programas sociais, os serviços essenciais à população e os necessários investimentos.

Sim, buscaremos o desenvolvimento de longo prazo, a taxas elevadas, social e ambientalmente sustentáveis. Para isso zelaremos pela poupança pública.

Zelaremos pela meritocracia no funcionalismo e pela excelência do serviço público. Zelarei pelo aperfeiçoamento de todos os mecanismos que liberem a capacidade empreendedora de nosso empresariado e de nosso povo. Valorizarei o Micro Empreendedor Individual, para formalizar milhões de negócios individuais ou familiares, ampliarei os limites do Supersimples e construirei modernos mecanismos de aperfeiçoamento econômico, como fez nosso governo na construção civil, no setor elétrico, na lei de recuperação de empresas, entre outros.

As agências reguladoras terão todo respaldo para atuar com determinação e autonomia, voltadas para a promoção da inovação, da saudável concorrência e da efetividade dos setores regulados.

Apresentaremos sempre com clareza nossos planos de ação governamental. Levaremos ao debate público as grandes questões nacionais. Trataremos sempre com transparência nossas metas, nossos resultados, nossas dificuldades.

Mas acima de tudo quero reafirmar nosso compromisso com a estabilidade da economia e das regras econômicas, dos contratos firmados e das conquistas estabelecidas.

Trataremos os recursos provenientes de nossas riquezas sempre com pensamento de longo prazo. Por isso trabalharei no Congresso pela aprovação do Fundo Social do Pré-Sal. Por meio dele queremos realizar muitos de nossos objetivos sociais.

Recusaremos o gasto efêmero que deixa para as futuras gerações apenas as dívidas e a desesperança.

O Fundo Social é mecanismo de poupança de longo prazo, para apoiar as atuais e futuras gerações. Ele é o mais importante fruto do novo modelo que propusemos  para a exploração do pré-sal, que reserva à Nação e ao povo a parcela mais importante dessas riquezas.

Definitivamente, não alienaremos nossas riquezas para deixar ao povo só migalhas. Me comprometi nesta campanha com a qualificação da Educação e dos Serviços de Saúde. Me comprometi também com a melhoria da segurança pública. Com o combate às drogas que infelicitam nossas famílias.

Reafirmo aqui estes compromissos. Nomearei ministros e equipes de primeira qualidade para realizar esses objetivos. Mas acompanharei pessoalmente estas áreas capitais para o desenvolvimento de nosso povo.

A visão moderna do desenvolvimento econômico é aquela que valoriza o trabalhador e sua família, o cidadão e sua comunidade, oferecendo acesso a educação e saúde de qualidade. É aquela que convive com o meio ambiente sem agredí-lo e sem criar passivos maiores que as conquistas do próprio desenvolvimento.

Não pretendo me estender aqui, neste primeiro pronunciamento ao país, mas quero registrar que todos os compromissos que assumi, perseguirei de forma dedicada e carinhosa. Disse na campanha que os mais necessitados, as crianças, os jovens, as pessoas com deficiência, o trabalhador desempregado, o idoso teriam toda minha atenção. Reafirmo aqui este compromisso.

Fui eleita com uma coligação de dez partidos e com apoio de lideranças de vários outros partidos. Vou com eles construir um governo onde a capacidade profissional, a liderança e a disposição de servir ao país será o critério fundamental.

Vou valorizar os quadros profissionais da administração pública, independente de filiação partidária.

Dirijo-me também aos partidos de oposição e aos setores da sociedade que não estiveram conosco nesta caminhada. Estendo minha mão a eles. De minha parte não haverá discriminação, privilégios ou compadrio.

A partir de minha posse serei presidenta de todos os brasileiros e brasileiras, respeitando as diferenças de opinião, de crença e de orientação política.

Nosso país precisa ainda melhorar a conduta e a qualidade da política. Quero empenhar-me, junto com todos os partidos, numa reforma política que eleve os valores republicanos, avançando em nossa jovem democracia.

Ao mesmo tempo, afirmo com clareza que valorizarei a transparência na administração pública. Não haverá compromisso com o erro, o desvio e o malfeito. Serei rígida na defesa do interesse público em todos os níveis de meu governo. Os órgãos de controle e de fiscalização trabalharão com meu respaldo, sem jamais perseguir adversários ou proteger amigos.

Deixei para o final os meus agradecimentos, pois quero destacá-los. Primeiro, ao povo que me dedicou seu apoio. Serei eternamente grata pela oportunidade única de servir ao meu país no seu mais alto posto. Prometo devolver em dobro todo o carinho recebido, em todos os lugares que passei.

Mas agradeço respeitosamente também aqueles que votaram no primeiro e no segundo turno em outros candidatos ou candidatas. Eles também fizeram valer a festa da democracia.

Agradeço as lideranças partidárias que me apoiaram e comandaram esta jornada, meus assessores, minhas equipes de trabalho e todos os que dedicaram meses inteiros a esse árduo trabalho. Agradeço a imprensa brasileira e estrangeira que aqui atua e cada um de seus profissionais pela cobertura do processo eleitoral.

Não nego a vocês que, por vezes, algumas das coisas difundidas me deixaram triste. Mas quem, como eu, lutou pela democracia e pelo direito de livre opinião arriscando a vida; quem, como eu e tantos outros que não estão mais entre nós, dedicamos toda nossa juventude ao direito de expressão, nós somos naturalmente amantes da liberdade. Por isso, não carregarei nenhum ressentimento.

Disse e repito que prefiro o barulho da imprensa livre ao silencio das ditaduras. As criticas do jornalismo livre ajudam ao país e são essenciais aos governos democráticos, apontando erros e trazendo o necessário contraditório.

Agradeço muito especialmente ao presidente Lula. Ter a honra de seu apoio, ter o privilégio de sua convivência, ter aprendido com sua imensa sabedoria, são coisas que se guarda para a vida toda. Conviver durante todos estes anos com ele me deu a exata dimensão do governante justo e do líder apaixonado por seu país e por sua gente. A alegria que sinto pela minha vitória se mistura com a emoção da sua despedida.

Sei que um líder como Lula nunca estará longe de seu povo e de cada um de nós. Baterei muito a sua porta e, tenho certeza, que a encontrarei sempre aberta.

Sei que a distância de um cargo nada significa para um homem de tamanha grandeza e generosidade. A tarefa de sucedê-lo é  difícil e desafiadora. Mas saberei honrar seu legado. Saberei consolidar e avançar sua obra.

Aprendi com ele que quando se governa pensando no interesse público e nos mais necessitados uma imensa força brota do nosso povo. Uma força que leva o país para frente e ajuda a vencer os maiores desafios.

Passada a eleição agora é hora de trabalho. Passado o debate de projetos agora é hora de união. União pela educação, união pelo desenvolvimento, união pelo país. Junto comigo foram eleitos novos governadores, deputados, senadores. Ao parabenizá-los, convido a todos, independente de cor partidária, para uma ação determinada pelo futuro de nosso país.

Sempre com a convicção de que a Nação Brasileira será exatamente do tamanho daquilo que, juntos, fizermos por ela.

Muito obrigada.

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

A PARTÍCULA DEUS

Por Affonso Romano de Sant´Anna
A notícia no jornal desta semana terminava dizendo que os cientistas estão quase chegando à  algo  conhecido " como  a partícula de Deus". E eu li isto na hora em que estava me organizando para uma conferência sobre ciência e poesia na VII Semana de Iniciação Cientifica da Universidade Veiga de Älmeida.
Então, lhes digo: aquela noticia sobre  a "partícula de Deus" é poesia pura. E é ciência. Enquanto ciência a gente vê os fatos objetivos: os cientistas construiram  na Europa um túnel imenso chamado LHC onde desencadearam um calor de 10 trilhões de graus Celsius para obter a matéria primordial do universo. Com isto pretendem conseguir  uma "densa sopa quente de quarks e glúons, conhecida  como plasma quark-glúon".
Imagino que vocês estão entendendo tanto quanto eu. O fato é que eles querem chegar  à "chamada força forte- a força que une as partículas formadoras do núcleo dos átomos".
Também quero entender isto. Essa "força forte" deve ser sinônimo de Deus. E nisto a física, a poesia e a música se aproximam. Me lembro de um hino com letra de Lutero e música de Beethoven que dizia:"Castelo forte é nosso Deus". Há uns 30 anos escrevi uma crônica intitulada : "Dando de cara com Deus". E o pessoal daquele conjunto "Blitz"  aproveitou essa frase num disco. Pois, eu continuo, tu continuas, ele continua dando de cara com Deus.
O cientista produz fórmulas.O artista produz metáforas.
A fórmula tenta captar com números, sinais e letras uma determinada realidade. O artista produz sons, formas, imagens, metáforas que dizem o indizível.
Vocês certamente sabiam que aquela palavra da física nuclear- "quarks" foi tirada de James Joyce, o romancista-poeta que fez com as palavras o que a física fez com átomo: desintegração/reintegração do sentido.
Vou mais longe: se os físicos procuram a fissão da matéria, o escritor, a  exemplo de Guimarães Rosa, faz a fissão da palavra. Do atrito entre duas palavras, da explosão de algumas sílabas, explode um significado novo.
Isto se parece até ao fenômeno das supernovas, essas estrelas que explodiram há milhões de anos e continuam mandando luz e energia até nós.  Vejam, Homero e Shakespeare explodiram há muito tempo, mas a luz que emitiram chega até nós vivíssima.
Estou quase dizendo o seguinte: o artista e o cientista estão diante do mesmo problema ou mistério. Talvez se pudesse até  dizer que o cientista interessa-se pelo " por que?" enquanto o poeta interessa-se pelo "como". O cientista  vai decompondo as partes, criando taxinomias reorganizando, procurando o sentindo oculto.O poeta vai por outra via, confronta-se com o todo.A ele interessa a perplexidade. Se quiserem usar uma palavra sofisticada, o artista é mais gestaltiano, ele sabe que qualquer sistema ou fenômeno é a soma de todas as partes mais um. Uma casa não é só a soma de telhas, tijolos e encanamentos. Uma pessoa não é só a reunião de músculos, ossos, sangue, etc.
Portanto, voltando ao parágrafo inicial, é possível que encontrem e descrevam racionalmente  aquela partícula- "a partícula Deus. E aí vão chegar ao todo pela parte. Mas como  dizia no sec. 17 o nosso Gregório de Mattos, "o todo sem a parte não é todo, o parte sem o todo não é parte". Os gregos sabiam disto. Os místicos sabem disto. Os melhores artistas sabem disto. Os melhores cientistas sabem disto.
Outro dia vi um documentário na TV Brasil sobre o "Fundo do mar". Mergulhei. Fundíssimo. Muito além do pré-sal. E vi, pelos olhos de pequeno submarino, os mais monstruosos e deslumbrantes seres que a ficção científica tenta imitar. Como se não bastassem os seres luminescentes e transparentes ainda filmaram um vulcão  em erupção debaixo do oceano.
Chegaram a conclusão de que há vida em toda parte. Até mesmo onde parece não haver nada. Ou seja, o nada está cheio de vida. O nada é  outra forma de tudo.
Me assombro. Mas isto não me mete medo. Me deslumbra.
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(*)Estado de Minas/Correio Braziliense, 14.11.2010.

domingo, 14 de novembro de 2010

Comer, rezar ou amar?

Outro dia me rendi ao apelo midiático e fui assistir ao tão falado e festejado Block Buster “Comer, rezar e amar”, baseado no Livro de mesmo nome, que é Best Seller no mundo todo...
Não sei se é porque já passei da fase das crises existenciais amorosas, se é que algum um dia as tive, mas fiquei muito decepcionada com o resultado filme. E olha que não estou nem levando em conta a (pasmem vocês!) péssima atuação de Javier Bardem na pele de um brasileiro muito fajuto, de quinta categoria mesmo...Mil vezes nosso Rodrigo Santoro ou qualquer outro ator-galã nacional. Mas deixa pra lá.
A protagonista Julia Roberts representa ser uma mulher adulta muito imatura e confusa e a idade dela parece ser bem maior do que a minha... Se bem que maturidade emocional não tem nada a ver com idade biológica...
Não convenceu nem um pouco aquela separação/divórcio da personagem logo no início da história... Aliás, nada convenceu, nem seu sofrimento desproporcional e descabido. Afinal de contas, por que aquele casamento aparentemente perfeito – o cara é legal com ela, um amor, bem apaixonado – acabou daquela forma repentina? Ela casou sem gostar, sem amá-lo? Bom, se foi isso, a responsabilidade foi toda sua pelo que aconteceu. O cara parece que não mudou muito depois de casar, a crise foi ela mesmo que forjou. Sofrimento procurado, querido. Não poderia ter outro fim senão aquele.
E o pior e mais absurdo é que esta é a história de muitas pessoas que conhecemos. Para mim, com a minha personalidade este tipo de problema é impensável, ainda bem!
Concordo com a Ana Maria, amiga parceira do programa, que comentou ao sair da sala que “a vida é bem mais simples do que as pessoas a fazem ser”, ela, assim como eu não gostou muito do filme, nunca passou por crises daquele tipo, dramas psicológicos auto-provocados daquela dimensão...

Para destacar algo de bom no filme, valeu ver Paris e Roma, Bali nem tanto assim... Dá uma vontade imensa de viajar para a Europa! Eu saí louca para comer uma massa ao sugo... E foi exatamente o que fiz! Acompanhada de um bom vinho tinto e da companhia agradabilíssima da amiga que tanto gosto e há muito não conversava.
Talvez o livro seja melhor que o filme – normalmente é, mas não o recomendo a ninguém. Talvez para uma adolescente seja interessante pensar um pouco sobre o assunto (ninguém passa ileso por esta fase da vida sem pelo menos uma crise existencial!), mas para o público masculino, seja de que idade for, definitivamente, não recomendo...
Abraço e que venham bons filmes a todos nós!
Mariana, que gosta de comer, de rezar e de amar, há muito tempo...


Se jogando na vida.

Não é fácil confiar em si mesmo a ponto de se jogar de cabeça, em queda livre do alto de seus sonhos mais ousados. É preciso boa dose de auto-estima, de coragem e muita, mas muita vontade mesmo – não apenas de chegar até o ponto sonhado, mas simplesmente de ir, tentar, arriscar-se.
O quê de pior pode acontecer se não der certo? No máximo, as coisas ficarão exatamente como estão, ou melhor: nunca mais seremos os mesmos, pois voltaremos muito mais fortes e tarimbados da tentativa voraz. Teremos saído do estágio do sonho apenas sonhado e passaremos para outro patamar, um nível acima: o do sonho tentado, perseguido, buscado.
O Cazuza cantou:- “Vida louca vida, vida breve, já que eu não posso te levar, quero que você me leve...”. Zeca Pagodinho em seu “clássico” do samba-pagode:-“Deixa a vida me levar, vida leva eu...” cantou neste sentido e o Skank também:"Vou deixar a vida me levar, pra onde ela quiser, seguir a direção de uma estrela qualquer...Não quero hora pra voltar".
Parece fácil, mas requer muita coragem simplesmente “deixar-se levar” pela vida, sem que isso implique em inércia, acomodação ou ausência de iniciativa. A falta de combatividade é motivo de penalidade no judô, perde-se pontos na luta por não se fazer nada, ficar apenas se defendendo do adversário.
Na vida também é assim. E os nossos piores adversários são sempre o nosso medo de errar, o nosso ego e orgulho, normalmente nascidos da insegurança e baixa auto-estima. 
Fugir da luta é tão grave quanto não se entregar pra valer à vida, esta que é a maior aventura de todas.
Sempre gostei de filmes e minha predileção maior é o gênero Documentário. Acredito que nada supera a realidade, nenhuma ficção é melhor do que ela. Não precisamos inventar um mundo surreal ou uma estória fantástica, pois está tudo bem aqui, na nossa frente, todos os dias.
São inúmeras histórias de superação dos próprios limites, conquistas incríveis, impensáveis, casos comoventes de sonhos não só conquistados como superados... A pessoa sonhava conseguir algo, mas consegue mais do que aquilo que sonhou, foi além do próprio sonho!
É impressionante, mas o destino se encarrega de conduzir cada um exatamente para onde a pessoa deseja. Por isto, cuidado com o que desejares, tudo pode acontecer, principalmente o que você quiser que aconteça.


Mariana L. de L. Carneiro
Brasília, 14 de novembro de 2010.

Não me arrependo de nada.

“Decidi que não vou mais me arrepender de nada daquilo que fiz no passado”.
De tudo o que tenho ouvido e lido sobre a Dilma Rousseff – nossa futura Presidenta – esta afirmação me chamou mais a atenção. O jornalista que a entrevistava a questionou sobre sua participação num grupo de resistência armada contra a Ditadura, quando jovem, se ela se arrependera hoje de algo do passado.
Achei interessante e inteligente a resposta, pois longe de refletir falta de (auto) crítica sobre o assunto ou de tentar justificar um possível erro, sua resposta é fruto da maturidade e experiência de uma mulher vivida e sofrida.
Sua resposta me fez pensar mais seriamente sobre este sentimento tão comum: o tal do ARREPENDIMENTO. Um sentimento tão religioso, provavelmente o mais católico de todos, que vem sempre carregado de culpa e remorso, às vezes auto-compaixão, auto-piedade e martírio espiritual.
Afinal, de que nos serve arrepender-se de algo, se não podemos fazer nada para mudá-lo, pois já consumado e eternizado no passado? O que passou é imutável, está morto e enterrado (ou deveria estar).
Para além do arrependimento- que é sempre ineficaz - está a COMPREENSÃO do que aconteceu.
Qual a utilidade ou finalidade da culpa, do remorso? Fazer a gente se sentir mais fraco, aflito e impotente diante do acontecido, pesando em nossa alma o erro cometido?
A nossa moral é facilmente abalada pelos outros e suas críticas, essas quase sempre fruto da ignorância e do preconceito. Normalmente, somos ainda mais rígidos no auto-julgamento, verdadeiros tiranos! Implacáveis, raramente nos perdoamos. Às vezes é mais fácil perdoar aos outros do que a nós mesmos.
Errar é da natureza Humana, bastaria termos consciência de que somos os únicos responsáveis pelos nossos atos e omissões, em relação a nós e ao que fazemos ou deixamos de fazer em relação aos outros.
A partir daí sim, pensar um presente e um futuro diferente, melhor. Se sentirmos necessidade, é válido pedir perdão ou desculpas a alguém que tenha sofrido ou sido atingido por conta de algo que tenhamos feito. É atitude honrada, nobre, generosa, fruto da humildade que só um espírito livre e desprendido pode ter.
Mas o importante mesmo é a gente se conhecer, saber por que agiu ou age de certa maneira para não repetir os mesmos erros sempre – temos que variar os erros, para conseguirmos nos aperfeiçoar nos futuros acertos.
Só nós sabemos (ou deveríamos saber) o que se passa em nossa mente e o quê carregamos em nosso coração, mesmo quando erramos. Lembro agora de Fernando Pessoa, também citado na entrevista por Dilma:  
“Valeu a pena? Tudo vale a pena
Se a alma não é pequena.
Quem quer passar além do Bojador
Tem que passar além da dor.
Deus ao mar o perigo e o abismo deu,
Mas nele é que espelhou o céu”.
Se “tudo vale a pena, se a alma não é pequena”, então não sejamos pequenos nunca, em nada, porque o mundo é grande e a vida breve.
Mariana L. de L. Carneiro.
Brasília, 14 de novembro de 2010.

sábado, 13 de novembro de 2010

Gente

O mais instigante da vida está nas relações humanas.
Não há nada mais fascinante do que
o mistério que cada pessoa guarda em si.
Nada nos ensina mais do que conviver com os outros.


Nem a paisagem mais exuberante,
Nem a o mar mais azul, verde, cristalino,
Nem a montanha mais alta e a planície mais verde,
Nem a neve,
Nem a tempestade solar.


Nada se compara à riqueza e à graça escondidas
No íntimo de um ser humano,
Por mais simples e humilde (estes são os mais ricos!)
Por mais que não tenha lido muitas coisas,
Por mais que não saiba ler, nem escrever.


O Homem é o que de mais fascinante e intrigante existe na Terra.
Se soubéssemos extrair tudo de bom que há em cada pessoa,
Poderíamos viver melhor neste Planeta
e em outros tantos quantos desejássemos viver, eternamente...


Mariana L. de L. Carneiro, que gosta de gente...
Em Brasília, 13 de novembro de 2010.

Pessoas solares

Outro dia reparei que existem dois tipos pessoas:
Umas mais solares, quentes, iluminadas, cheias de energia.
Fortes, irradiam luz verdadeira que contagia tudo e a todos ao seu redor.
Gostam da alegria e vibram com cada pequena conquista.
Emanam raios de positividade por seus poros.

Outras vivem na escuridão, numa noite sem fim,
São frias, indiferentes ao mundo e aos outros.
Vivem nas trevas de seus próprios medos e frustrações.
Cultivam o rancor, a culpa, sentem pena de si mesmo.
E tudo que vêem e sentem tem um viés predominantemente negativo e sombrio.

Quem é mais solar precisa aprender a preservar sua energia e resguardá-la.
Os outros, mais sombrios se incomodam, seus olhos não estão acostumados com a claridade da vida.
Precisam da noite e ela os acompanha sempre.
Eles temem ficar cegos ou ofuscar sua visão.
Não suportariam viver na luz,
Ou porque nunca viveram nela,
Ou porque desaprenderam, vivendo na caverna,
Acreditam que as sombras são a realidade.

É fato que o caminho da luz, uma vez descoberto, é sem volta.
Nossa vida passa a depender do sol tanto quanto do ar e da água.
Todos nós, porém, seres mais solares, temos nossos momentos sombrios,
Só que a nossa noite é sempre de Lua Cheia!

Mariana Lourenço de Lima Carneiro, vivendo agora nesta cidade tão clara, que mesmo sem sol é muito iluminada, tanto de dia como à noite, Nossa “Cidade Luz”, Brasília! Em 13 de novembro de 2010.




A Falsa Eternidade

 O verbo prorrogar entrou em pleno vigor,
 e não só se prorrogaram os mandatos como o vencimento de dívidas
 e dos compromissos de toda sorte.
 Tudo passou a existir além do tempo estabelecido.

 Em conseqüência não havia mais tempo.
 Então suprimiram-se os relógios, as agendas e os calendários.
 Foi eliminado o ensino de História, para que História?
 Se tudo era a mesma coisa, sem perspectiva de mudança.

 A duração normal da vida também foi prorrogada e,
 porque a morte deixasse de  existir,
 proclamou-se que tudo entrava no regime de eternidade.

 Aí começou a chover, e a eternidade se mostrou encharcada e lúgubre.
 E o seria para sempre, mas não foi.
 Um mecânico que se entediava em demasia com a eternidade aquática
 inventou um dispositivo para não se molhar.
 Causou a maior admiração e começou a receber inúmeras encomendas.
 A chuva foi neutralizada e, por falta de objetivo, cessou.
 Todas as formas de duração infinita foram cessando igualmente.
 

 Certa manhã, tornou-se irrefutável que a vida voltara ao signo do
 provisório e do  contingente.
 Eram observados outra vez prazos, limites.
 Tudo refloresceu.
 O filósofo concluiu que não se deve plagiar a eternidade.

 Carlos Drummond de Andrade 

 Contos Plausíveis, in Andrade, C. D. (1992): Poesia e Prosa, Rio de Janeiro: Aguilar,    pg. 1233.