“Os bons morrem antes”, cantou o poeta Renato Russo, que assim como a Eloísa foi embora cedo demais. É sempre dolorido dizer adeus a quem nos é querido e especial, é difícil se conformar com o fato de que nunca mais veremos, nem conversaremos com alguém que queríamos muito bem e que fez diferença em nossa passagem por esta vida.
Assim me sinto em relação àquela que foi minha primeira cliente, àquela que primeiro confiou a mim suas angústias e problemas jurídicos.
De cara, percebi tratar-se de uma pessoa fora do comum, com uma sensibilidade à flor da pele, pura emoção. Nem cogitei de não ajudá-la com meus serviços, pois sem perceber já havia me apaixonado por aquela causa, apesar das aparentes dificuldades. Mas os desafios sempre me motivaram e ela foi, antes de tudo, uma parceira nas batalhas que travamos juntas.
Nosso vínculo nasceu na esfera profissional, mas acabou por invadir o campo pessoal e quando nos demos conta já havíamos construído uma bela amizade. Com o passar do tempo, aquela confiança recíproca foi aumentando, assim como a admiração e encantamento pelo ser humano que se desvendava a cada encontro.
Tínhamos várias afinidades, entre elas a preocupação com os flagelos humanos, com aqueles que não têm forças para se defender sozinhos das injustiças e atrocidades desde mundo, cada vez mais cruel e voraz.
Cultivávamos um amor especial pelas crianças e pelos adolescentes, da mesma forma que toda causa em prol das chamadas “minorias” nos tocava profundamente.Tentávamos, na medida do possível, utilizar nosso trabalho em favor dos ideais que acreditávamos, pois sabíamos da responsabilidade social que um cidadão tem para com todos os seus irmãos.
É claro, que através da sua arte ela soube dizer o indizível, expressar o que nenhuma palavra é capaz de traduzir, já que a arte é, sobretudo, a ciência da emoção e da alma.
Só os muito sensíveis conseguem dizer o que só o coração é capaz de entender.
Por diversas vezes me permiti sair da rigidez racional do Direito para mergulhar no seu maravilhoso e misterioso mundo das Artes.
Vibrávamos com as conquistas pessoais e profissionais de cada uma, demonstrando o orgulho de carregar no peito uma sincera amizade.
Ela soube ousar quando foi necessário e ser humilde quando preciso. Conheci na Eloísa alguém que não se angustiava por não ter certeza das coisas e que tinha a coragem de seguir buscando suas respostas com muita intensidade e confiança, apesar das intempéries da vida.
Aprendi com ela que, tal como disse o escritor “O céu é um lugar onde o ar é gelado e o respiras e o vives; onde desejas podes flutuar, sonhar, correr e brincar todos os dias de tua vida. O céu está ali para todos; entretanto, apenas alguns o buscam”.
Eloísa buscou o céu e nunca desistiu de sua busca. Espero que ele seja tudo aquilo que ela sempre sonhou.
Nossa troca de idéias era sempre muita rica e me fazia crescer como ser humano, como profissional, pois ela era profunda em seus questionamentos e anseios.
Lamento o fato de que nossos encontros eram quase sempre desencadeadores de tristeza e sofrimento para ela, pois a fazia recordar assuntos delicados e desagradáveis.
Mas sei que fiz o meu melhor para amenizar esta dor que me via obrigada por vezes a suscitar, dando-lhe a segurança necessária para acreditar que tudo daria certo, que tudo fazia parte da vida e que acabaria passando, pois o tempo acaba por apagar as marcas ruins na memória.
Queria ter tido tempo para ser menos sua advogada e mais sua amiga.
Eloísa sempre fazia questão de me agradecer repetidas vezes por algo que eu tinha feito, sem nenhuma pretensão de lhe agradar ou ajudar, atitudes que eu tomava por minha própria iniciativa e que fazia por mim também. E eu sempre lhe dizia que não precisava agradecer, que não havia feito nada demais, nenhum favor especial.
Mas hoje entendo o que lhe fazia sentir tão grata e também lhe agradeço por tudo que me ensinastes e me permitiu perceber: MUITO OBRIGADA ELOÍSA, eu também tive muita sorte em lhe encontrar pelo caminho, minha amiga.
Agradeço a Deus por ter conhecido e convivido com uma pessoa como a Eloísa, que fez diferença no mundo, porque ousou olhar para ele com outros olhos. Ela deixou muito de si e levou um pouco de nós ao partir.
Até breve amiga, espero reencontrá-la um dia feliz, criando seus trabalhos ai no céu e me recebendo em alguma exposição com um grande e saudoso abraço! Enquanto espero por este dia, tentarei seguir os ensinamentos do poeta:
“Nunca te deixes abater pelas despedidas. São indispensáveis como preparo para o reencontro. E é certo que os amigos voltarão a se encontrar, depois de algum tempo ou de uma vida toda”.
Nenhum comentário:
Postar um comentário