“Decidi que não vou mais me arrepender de nada daquilo que fiz no passado”.
De tudo o que tenho ouvido e lido sobre a Dilma Rousseff – nossa futura Presidenta – esta afirmação me chamou mais a atenção. O jornalista que a entrevistava a questionou sobre sua participação num grupo de resistência armada contra a Ditadura, quando jovem, se ela se arrependera hoje de algo do passado.
Achei interessante e inteligente a resposta, pois longe de refletir falta de (auto) crítica sobre o assunto ou de tentar justificar um possível erro, sua resposta é fruto da maturidade e experiência de uma mulher vivida e sofrida.
Sua resposta me fez pensar mais seriamente sobre este sentimento tão comum: o tal do ARREPENDIMENTO. Um sentimento tão religioso, provavelmente o mais católico de todos, que vem sempre carregado de culpa e remorso, às vezes auto-compaixão, auto-piedade e martírio espiritual.
Afinal, de que nos serve arrepender-se de algo, se não podemos fazer nada para mudá-lo, pois já consumado e eternizado no passado? O que passou é imutável, está morto e enterrado (ou deveria estar).
Para além do arrependimento- que é sempre ineficaz - está a COMPREENSÃO do que aconteceu.
Qual a utilidade ou finalidade da culpa, do remorso? Fazer a gente se sentir mais fraco, aflito e impotente diante do acontecido, pesando em nossa alma o erro cometido?
A nossa moral é facilmente abalada pelos outros e suas críticas, essas quase sempre fruto da ignorância e do preconceito. Normalmente, somos ainda mais rígidos no auto-julgamento, verdadeiros tiranos! Implacáveis, raramente nos perdoamos. Às vezes é mais fácil perdoar aos outros do que a nós mesmos.
Errar é da natureza Humana, bastaria termos consciência de que somos os únicos responsáveis pelos nossos atos e omissões, em relação a nós e ao que fazemos ou deixamos de fazer em relação aos outros.
A partir daí sim, pensar um presente e um futuro diferente, melhor. Se sentirmos necessidade, é válido pedir perdão ou desculpas a alguém que tenha sofrido ou sido atingido por conta de algo que tenhamos feito. É atitude honrada, nobre, generosa, fruto da humildade que só um espírito livre e desprendido pode ter.
Mas o importante mesmo é a gente se conhecer, saber por que agiu ou age de certa maneira para não repetir os mesmos erros sempre – temos que variar os erros, para conseguirmos nos aperfeiçoar nos futuros acertos.
Só nós sabemos (ou deveríamos saber) o que se passa em nossa mente e o quê carregamos em nosso coração, mesmo quando erramos. Lembro agora de Fernando Pessoa, também citado na entrevista por Dilma:
“Valeu a pena? Tudo vale a pena
Se a alma não é pequena.
Quem quer passar além do Bojador
Tem que passar além da dor.
Deus ao mar o perigo e o abismo deu,
Mas nele é que espelhou o céu”.
Se a alma não é pequena.
Quem quer passar além do Bojador
Tem que passar além da dor.
Deus ao mar o perigo e o abismo deu,
Mas nele é que espelhou o céu”.
Se “tudo vale a pena, se a alma não é pequena”, então não sejamos pequenos nunca, em nada, porque o mundo é grande e a vida breve.
Mariana L. de L. Carneiro.
Brasília, 14 de novembro de 2010.
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