Que pode uma criatura senão entre criaturas, amar?Carlos Drummond de Andrade
amar e esquecer,
amar e malamar,
amar, desamar, amar?
sempre, e até de olhos vidrados, amar?
Que pode, pergunto, o ser amoroso
sozinho, em rotação universal, senão
rodar também, e amar?
amar o que o mar traz à praia,
o que ele sepulta, e o que, na brisa marinha,
é sal, ou precisão de amor, ou simples ânsia?
Amar solenemente as palmas do deserto,
o que é entrega ou adoração expectante,
e amar o inóspito, o áspero,
um vaso sem flor, um chão de ferro,
e o peito inerte, e a rua vista em sonho, e uma ave de rapina.
Este o nosso destino: amor sem conta,
distribuído pelas coisas pérfidas ou nulas,
doação ilimitada a uma completa ingratidão,
e na concha vazia do amor a procura medrosa,
paciente, de mais e mais amor.
Amar a nossa falta mesma de amor, e na secura nossa
amar a água implícita, e o beijo tácito, e a sede infinita.
Um lugar para refletir um pouco sobre tudo... Alguns devaneios meus e de outros, reminiscências, sugestões e impressões de livros, filmes, músicas. Um pouco de mim, das coisas que gosto e acredito, um pouco do meu pequeno mundo. Sejam bem vindos a este espaço muito auto biográfico, mas que pretende ser bem democrático. Participem! Vamos pensar juntos o mundo, trocar idéias, experiências de vida. Aguardo todos. Sejam bem vindos, este espaço é nosso!
sexta-feira, 12 de novembro de 2010
Amar
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